Hoje, depois
de 58 filmes, refletindo sobre todas as personagens que já vivi, não só no
cinema, mas no teatro, TV, shows, e até fotonovelas que fiz, fiquei pensando
qual desses personagens realmente ficou, e conclui que todos de uma forma ou
outra ajudaram no meu crescimento como atriz, mas alguns com certeza tiveram
uma importância maior, não só pela intensidade das personagens, mas por todo um
clima que se forma durante o processo de criação/produção, no dia a dia de uma
filmagem e finalmente no trabalho finalizado, pronto para ser apresentado e
comercializado, são meses convivendo com toda uma equipe que se torna uma
família unida em torno de um mesmo objetivo (realizar aquela obra) que passa a
pertencer um pouco a cada um, ai nos despedimos esperando o próximo trabalho
onde começaremos tudo de novo e fica a saudades de cada um pois
dificilmente reuniremos a mesma equipe.
Desses
personagens ANA TERRA, ainda hoje me toca profundamente, ouvindo a mídia toda
falando do novo filme (O TEMPO E O VENTO) a trilogia do (ERICO VERISSIMO) da
qual ANA faz parte
me senti estranha, foi como se
alguém estivesse usurpando algo que só a min pertencia, como se falassem
de uma pessoa que me era muito querida e
os sentimentos foram se misturando, era como se referissem a mim , sentia ao
mesmo tempo orgulho mas também senti ciúmes, estranho, porque ANA é apenas uma
personagem que vivi, a quem dedique quase um ano da minha vida, emprestei o meu
corpo, sentimentos e emoções, e durante as filmagens em CRUZ ALTA terra de ÉRICO VERISSIMO, uma pequena cidadezinha no meio dos pampas Gaúchos, aconteceu muita
coisa, meu pai faleceu no Rio de Janeiro, sem que eu soubesse, não tinha nem
telefone para me avisarem, tínhamos que nos comunicar por meio de radio amador,
era complicado, porque tínhamos que avisar e marcar hora pra falar com as
pessoas, e o radio nem sempre funcionava, e mesmo que conseguissem falar comigo
não haveria tempo para chegar.
Vi o ator
quase morrer enforcado e o diretor DURVAL GARCIA sedo atropelado por uma vaca
doida enfurecida, fiz novos amigos, aprendi a dirigir, passei noites em claro
antes da cena da curra, um lampião de querosene quase explodiu na minha cara,
porque alguém distraído trocou o querosene por gasolina, felizmente o meu anjo
da guarda estava atento, e o diretor num lampejo de intuição que só o amor
confere, quando eu ia aproximar a chama do lampião, gritou: - CORTA e mandou
conferir o liquido.
Tenho
certeza de uma coisa, que a ANA que eu vivi, não poderá ser interpretada por
mais ninguém, porque apesar de forte e destemida, havia em seu olhar algo
inocente e virginal, na expectativa de um futuro misterioso e cheio de amor e
esperança, onde os sentimentos da ANA se confundiram com os da ROSSANA.
Sentimentos aflorados: coisa tão rara nos tempos de hoje! Parabéns!
ResponderExcluirNelson