domingo, 29 de setembro de 2013

REFLEXÕES – ANA TERRA E O TEMPO E O VENTO


Hoje, depois de 58 filmes, refletindo sobre todas as personagens que já vivi, não só no cinema, mas no teatro, TV, shows, e até fotonovelas que fiz, fiquei pensando qual desses personagens realmente ficou, e conclui que todos de uma forma ou outra ajudaram no meu crescimento como atriz, mas alguns com certeza tiveram uma importância maior, não só pela intensidade das personagens, mas por todo um clima que se forma durante o processo de criação/produção, no dia a dia de uma filmagem e finalmente no trabalho finalizado, pronto para ser apresentado e comercializado, são meses convivendo com toda uma equipe que se torna uma família unida em torno de um mesmo objetivo (realizar aquela obra) que passa a pertencer um pouco a cada um, ai nos despedimos esperando o próximo trabalho onde começaremos tudo de novo e fica a saudades de cada um pois dificilmente  reuniremos a mesma equipe.
Desses personagens ANA TERRA, ainda hoje me toca profundamente, ouvindo a mídia toda falando do novo filme (O TEMPO E O VENTO) a trilogia do (ERICO VERISSIMO) da qual ANA  faz  parte  me  senti estranha, foi como se alguém estivesse usurpando algo que só a min pertencia, como se falassem de  uma pessoa que me era muito querida e os sentimentos foram se misturando, era como se referissem a mim , sentia ao mesmo tempo orgulho mas também senti ciúmes, estranho, porque ANA é apenas uma personagem que vivi, a quem dedique quase um ano da minha vida, emprestei o meu corpo, sentimentos e emoções, e durante as filmagens em CRUZ ALTA  terra de ÉRICO VERISSIMO, uma pequena cidadezinha  no meio dos pampas Gaúchos, aconteceu muita coisa, meu pai faleceu no Rio de Janeiro, sem que eu soubesse, não tinha nem telefone para me avisarem, tínhamos que nos comunicar por meio de radio amador, era complicado, porque tínhamos que avisar e marcar hora pra falar com as pessoas, e o radio nem sempre funcionava, e mesmo que conseguissem falar comigo não haveria tempo para chegar.
Vi o ator quase morrer enforcado e o diretor DURVAL GARCIA sedo atropelado por uma vaca doida enfurecida, fiz novos amigos, aprendi a dirigir, passei noites em claro antes da cena da curra, um lampião de querosene quase explodiu na minha cara, porque alguém distraído trocou o querosene por gasolina, felizmente o meu anjo da guarda estava atento, e o diretor num lampejo de intuição que só o amor confere, quando eu ia aproximar a chama do lampião, gritou: - CORTA e mandou conferir o liquido.

Tenho certeza de uma coisa, que a ANA que eu vivi, não poderá ser interpretada por mais ninguém, porque apesar de forte e destemida, havia em seu olhar algo inocente e virginal, na expectativa de um futuro misterioso e cheio de amor e esperança, onde os sentimentos da ANA se confundiram com os da ROSSANA.

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